"Eu acredito em minhas possibilidades e potencialidades. Eu faço a minha existência aqui e agora." [Ana Carolina]

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Psicodiagnóstico

O psicodiagnóstico não é restrito apenas a uma conclusão específica, mas procura evidenciar questões subjetivas do sujeito e a dinâmica familiar em que está inserido e que influenciam nos sintomas apresentados pelo sujeito. Afinal, busca-se um entendimento do que está além do conhecimento do paciente, mas que lhe causa tanto sofrimento.
Cunha (2000) aponta que

Psicodiagnóstico é uma avaliação psicológica, feita com propósitos clínicos e, portanto, não abrange todos os modelos de avaliação psicológica de diferenças individuais. É um processo que visa a identificar forças e fraquezas no funcionamento psicológico, com um foco na existência ou não de psicopatologia. (p. 23)

Para a realização de um psicodiagnóstico diferencial e compreensivo, em que os objetivos sejam alcançados, levando-se em consideração aspectos biológicos e sócio-culturais do sujeito, devem-se realizar entrevistas iniciais, anamnese, testes, hora lúdica familiar, hora do jogo infantil; para então, a partir dos dados observados, levantar hipóteses e confirmá-las ou não no decorrer do psicodiagnósticos. As hipóteses confirmadas serão discutidas com os pacientes e familiares e, se necessário, faz-se encaminhamento para outros profissionais. Cunha (2000) completa a definição do processo psicodiagnóstico como

[...] um processo científico, limitado no tempo, que utiliza técnicas e testes psicológicos (input), em nível individual ou não, seja para entender problemas à luz de pressupostos teóricos, identificar e avaliar aspectos específicos, seja para classificar o caso e prever seu curso possível, comunicando os resultados (output), na base dos quais são propostas soluções, se for o caso. (p. 26)

Inicialmente, o psicólogo recebe a queixa (motivo) manifesta, mas deve buscar o motivo latente, incluindo-o no processo e levantando hipóteses que auxiliem o paciente em sofrimento, pois, geralmente, a queixa inicial é o sintoma daquilo que o sujeito não tem conseguido suportar. Cunha (2000) aponta que “o plano de avaliação é estabelecido com base nas perguntas ou hipóteses iniciais, definindo-se não só quais os instrumentos necessários, mas como e quando utilizá-los.” (p.26)
Arzeno (1995) define que o psicodiagnóstico trata- se de um estudo profundo da personalidade, de acordo com o ponto de vista clínico, isto é, há a existência de uma parte consciente e outra inconsciente. A Psicanálise aponta com veemência que os conteúdos reprimidos no inconsciente são sintomatizados a partir do mecanismo de defesa neurótico, o recalque.
De modo resumido, Cunha (2000) define alguns passos do diagnóstico psicológico clínico
a)      levantamento de perguntas relacionadas com os motivos da consulta e definição das hipóteses iniciais e dos objetivos do exame;
b)      planejamento, seleção e utilização de instrumentos de exame psicológico;
c)      levantamento quantitativo e qualitativo dos dados;
d)      integração de dados e informações e formulação de inferências pela integração dos dados, tendo como pontos de referência as hipóteses iniciais e os objetivos do exame;
e)      comunicação de resultados, orientação sobre o caso e encerramento do processo. ( p. 31)

Entretanto, a partir de uma breve explanação do processo psicodiagnóstico, faz-se necessário discutir o primeiro contato e vínculo a ser estabelecido com o paciente, ou seja, o rapport. Basicamente, a primeira entrevista tem o objetivo de colher as informações iniciais sobre o motivo que levou o paciente a procura de um psicólogo.
Arzeno (1995) define que a primeira entrevista

[...] é um conceito referente à primeira etapa diagnóstica, que tem um objetivo específico, mas não significa que deve ser só uma nem que deve ser realizada obrigatoriamente no início do processo diagnóstico. Em circunstâncias especiais podemos obter dados após a aplicação dos testes, e não no início da consulta. (p. 23)

Assim, não necessariamente colhemos todas as informações sobre o paciente e o contexto no qual está inserido, pois as hipóteses, os questionamentos e as possíveis conclusões surgirão ao longo das sessões de atendimento, principalmente com o uso de testes e hora lúdica com brinquedos para as crianças.
A duração dos atendimentos é estipulada e, portanto, como profissionais, devemos buscar algumas respostas iniciais, motivos, queixas, sofrimento, etc., para que possamos iniciar o psicodiagnóstico. Não devemos esquecer-nos de considerar fatores estressantes nas consultas e, principalmente, ao escolher os testes e aplicá-los, buscando acalmar o paciente ou remarcar o atendimento para o dia mais próximo com o intuito de não prolongar a distância de um atendimento interrompido.
Outro requisito importante, além da ansiedade dos pacientes, há a ansiedade dos pais, principalmente de crianças, que pode vir a atrapalhar a entrevista inicial, devido a um medo excessivo de que seus erros possam ser apontados e sejam crucificados como culpados e fracassados na criação e desenvolvimento de seus filhos. Infelizmente, ainda há crenças errôneas sobre o profissional de Psicologia, e, por isso, devemos acolher o paciente e seus familiares, buscando o estabelecimento de um vínculo de confiança, sem julgamentos, para que o psicodiagnóstico possa acontecer e que o paciente e a família possam utilizar os recursos oferecidos pelo psicólogo, buscando amenização do sofrimento e sintoma.
Desse modo, sugere-se para o primeiro contato com o paciente, uma entrevista livre, não direcionada e que possibilite a investigação de hipóteses iniciais sobre a dinâmica familiar do sujeito e a queixa apresentada, não se esquecendo de investigar o motivo latente que tem causado o sintoma no paciente. Arzeno (1995) complementa que

[...] serão levados em consideração tanto elementos verbais como não verbais da entrevista, a gesticulação dos pais, seus lapsos, suas ações, como por exemplo ir ao banheiro, esquecer algo ao partir, segurar o tempo todo uma bolsa ou pasta, fazer comentários sobre o consultório (agradáveis ou desagradáveis) ou sobre a nossa pessoa como profissionais, fazer alguma queixa (mesmo parecendo justificada pode estar encobrindo uma queixa de outra natureza), desencontro do casal ao chegar para a primeira entrevista, trocar o horário por engano, trazer uma lista escrita com dados excessivamente detalhados, olhar o teto o tempo todo, pedir um conselho rapidamente, etc. (p. 30)

Outro aspecto importante para o psicodiagnóstico é a hora lúdica em que o brincar predomina, isto é, em atendimento com crianças, o brincar é extremamente importante e necessário no processo, pois ao brincar, a criança projeta seus desejos e fantasias inconscientes e evidencia aspectos da dinâmica familiar em que está inserida.
Apesar de os adultos serem diferentes das crianças, pois não aceitam o brincar no setting terapêutico, o processo é semelhante em ambos os casos, porque tanto o adulto quanto a criança projetam e nos revelam o contexto que vivem e o seu sofrimento psíquico. Arzeno (1995) afirma que
[...] entrevista com a criança é livre, assim como a do adulto, mas existem diferenças entre elas. O adulto fala, geralmente sobre os seus problemas, e quando fica em silêncio consegue tolerá-lo melhor que a criança. Esta, na melhor das hipóteses, consegue dizer umas poucas palavras sobre o que está acontecendo. (Arzeno, 1995, p. 47)

Assim, a criança torna-se diferente do adulto, porque esta utiliza outros meios de comunicação que apontem aspectos importantes de sua subjetividade. O adulto só tem o meio da fala ou associações livres, como bem teorizado pela Psicanálise, enquanto a criança, que normalmente se apresenta resistente, desconfiada e tímida, ao brincar, se sente livre para “dizer o não dito”, que tem muito a revelar sobre o sintoma apresentado pela mesma.
Arzeno (1995) aponta que

O papel do psicólogo na hora de jogo diagnóstica é o de um observador não participante. Mas essa não participação tem um limite. Existem crianças que ao chegar já solicitam que façamos alguma coisa com elas. Essa pode ser a forma que elas encontram para manter-nos entretidos porque temem que possamos fazer-lhes algum mal, uma sedução por motivos mais ou menos semelhantes, ou então, uma verdadeira forma de buscar contato. (p. 51)

Então, “tudo o que vier a acontecer na hora do jogo é significativo” (p. 54), mas não podemos esquecer-nos de que é importante ter o cuidado ao mobilizar a angústia da criança, pois falar sobre o sofrimento é doloroso para o paciente, podendo inclusive, interferir no vínculo estabelecido com o mesmo.
No brincar é possível observar como se dão as relações dos pacientes com seus irmãos, colegas, pais e outros familiares, bem como os aspectos do desenvolvimento físico do paciente. Porém, vale ressaltar que algumas situações podem evidenciar fantasias inconscientes infantis, pois nem sempre o que eles nos trazem realmente aconteceu, o que nos leva a buscar comprovações das situações trazidas pelos pacientes.
Desse modo, podemos concluir que o psicodiagnóstico é um processo dividido em etapas e com tempo limitado, a fim de investigar a demanda a partir de diferentes recursos psicológicos, baseando-se em hipóteses levantadas e fundamentadas teoricamente como auxílio a conclusões do caso e possíveis encaminhamentos.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ARZENO, M.E.G. In.: Psicodiagnóstico Clínico. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.

CUNHA, J.A. Fundamentos do Psicodiagnóstico. In.: Psicodiagnóstico V. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2000. Cap. 2, pp. 19-31.

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