"Eu acredito em minhas possibilidades e potencialidades. Eu faço a minha existência aqui e agora." [Ana Carolina]

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

O papel do psicólogo sob o prisma da psicologia social comunitária

O debate acerca da inserção dos psicólogos em espaços de atuação diferenciados dos tradicionais – entre estes, a clínica psicológica, por exemplo-, não é novo. Tal debate, que traz como um dos seus pontos principais a crítica ao elitismo da Psicologia, coincide com o desenvolvimento da Psicologia Comunitária no Brasil. Esta se constitui a partir do movimento de uma série de psicólogos que criticavam o Positivismo da Psicologia Social, buscando construir propostas de transformação social a partir de maior aproximação do psicólogo com os fenômenos do cotidiano da maioria da população.
Paralelamente ao desenvolvimento da Psicologia Comunitária, observam-se contínuas mudanças nos cenários das Políticas Públicas brasileiras e, no espaço dessas novas configurações, um crescimento das possibilidades de atuação do psicólogo no “campo público do bem-estar social, a partir de uma concepção diferente das demais atuações da Psicologia: o sujeito como produtor de sua realidade social” (Ximenes; Paula; Barros, 2009).
O psicólogo tem um arsenal de contextos para atuar, e um deles é o contexto comunitário, em que é desenvolvido atividades por diferentes prismas. Interessa-nos, enquanto pesquisadores, compreender como se dá esta atuação, bem como os limites e possibilidades de enfrentamento.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Pesquisa sobre divórcio destrutivo

Se o cotidiano lhe parece pobre, não o acuse: acuse a si próprio de não ser muito bom poeta para extrair suas próprias riquezas.
(Rainer Rilke)

O divórcio é um fenômeno crescente na sociedade contemporânea e, consequentemente acarreta no aumento de ex-cônjuges que buscam a Justiça para resolver seus conflitos familiares. Um dos mitos a serem desconstruídos acerca deste fenômeno é de que o aumento crescente de sua incidência é sinônimo de deficiência familiar. De acordo com o estudo, o aumento do divórcio se deve a uma menor tolerância a uniões conflituosas e danosas e a uma maior expectativa que se tem sobre o casamento.
O artigo discutido nesta resenha aborda a questão dos papéis parentais e conjugais no divórcio destrutivo em que há filhos pequenos e insere-se no contexto jurídico durante a realização do estudo psicossocial de famílias em processos de disputa de guarda e regulamentação de visitas, especificamente no Serviço e Atendimento a Famílias com Ação Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (SERAF/TJDFT). A fundamentação teórica para compreensão dos conteúdos obtidos, bem como para compreensão da dinâmica familiar, foi a Teoria Familiar Sistêmica, pois esta abordagem “valoriza a complexidade, a contextualidade, a recursividade, o indeterminismo, a imprevisibilidade e a intersubjetividade dos fenômenos e das relações trabalhadas.” (Juras e Costa, 2011, p. 223)
 Para a realização desta pesquisa, participaram três famílias divorciadas que entraram na Justiça buscando a regularização judicial da guarda e visita dos filhos, todos eles com menos de 12 anos de idade, uma vez que nesta faixa etária, as crianças se mostram mais vulneráveis a este processo, por perceberem a dinâmica violenta sem estarem psiquicamente instrumentalizadas para lidar com o conflito e dele se afastar. A análise de dados foi feita a partir da análise de conteúdo que possibilita uma construção interpretativa com base em zonas de sentido.
Entretanto, neste estudo, os autores apontam um nome reflexivo para a uma dinâmica familiar violenta após o divórcio, em que prevalecem sentimentos agressivos entre os ex-cônjuges, incluindo terceiros no conflito. Tal conflito se denomina “divórcio destrutivo”.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Dica de livro: Gestalt-Terapia de Curta Duração

A minha iniciativa em procurar o tema Gestalt-Terapia de Curta Duração partiu de um parágrafo que li e que me levou a refletir acerca da prática do psicólogo: “as pessoas não sabem mais olhar para dentro de si mesmas e ver como são: imensas, sagradas, plenas de potencialidades. É função da psicoterapia colocar a pessoa, a todo instante, diante de si mesmas, olhando-se sem prevenção, sem desprezo, sem culpa de querer ser feliz, mas com amor, orgulho de si mesma, com fascínio e celebração da própria realidade.” (Ribeiro, 2009, p. 31)
Após a curiosidade, descobri que a frase pertence ao livro do Jorge Ponciano Ribeiro (op. cit) e se trata de um novo olhar e uma nova modalidade da Gestalt-terapia. Confesso que o título “curta duração” causou impacto e ao mesmo tempo curiosidade em saber: como é possível?
Logo, busquei aprofundamento na discussão e realizei um curso com o próprio autor do livro, e lá pude compreender essa nova modalidade de atendimento, entendendo suas particularidades. De acordo com Ponciano, o campo é um todo, no qual as partes estão em relacionamento. Essa totalidade inclui pessoa e meio, variáveis psicológicas e não psicológicas; e estes elementos se influenciam e estão dinamicamente inter-relacionados.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Intervenção multidisciplinar e violência doméstica

"A pessoa mais bacana do mundo também tem um lado perverso. E a pessoa mais arrogante pode ter dentro de si um meigo. Escolhemos uma versão oficial para consumo externo, mas os nossos eus secretos também existem e só estão esperando uma provocação para se apresentarem publicamente. A questão é perceber se a pessoa com quem você convive ajuda você a revelar o seu melhor ou o seu pior."

Martha Medeiros.

A violência contra as mulheres representa uma grave violação dos direitos humanos, que compromete a saúde e o desenvolvimento integral da mulher na sociedade. Este tipo de violência trata-se de um fenômeno complexo e multifacetado, cujo entendimento abrange uma compreensão de suas dimensões psíquica, social, cultural e jurídica.
O autor corrobora tal perspectiva ao considerar a violência doméstica como um processo social, judicial, interpessoal e pessoal de interpretação de um relacionamento íntimo e agressivo. Neste sentido, para compreender como as relações abusivas começam e são mantidas na família, é necessário um olhar que abranja as relações familiares e sociais como um todo, considerando, portanto, o caráter sistêmico da violência doméstica.
Diante disso, precisamos refletir acerca do campo científico e suas implicações, isto é, o conhecimento científico está em constantes reformulações e questionamentos em que métodos, intervenções e teorias considerados eficazes dentro de um modelo tradicional de ciência não têm sido capazes de explicar e compreender acontecimentos complexos e multifacetados, os quais exigem do profissional uma postura diferenciada daquela visão rotulada, reducionista e objetiva. A nova ciência passa, portanto, a buscar formas mais integradas de conhecimento e ação, enfatizando tanto o sujeito quanto o seu contexto.
A Psicologia, por sua vez, tem lidado com realidades complexas repletas de contradições e paradoxos. Dentre estas, a intervenção em casos de violência em diferentes contextos, seja na justiça, na saúde, na educação ou no próprio consultório, que exigem ações mais flexíveis e interconectadas. A violência não é um problema que se restrinja às práticas terapêuticas de consultório, mas que requer mudança das relações sociais de maneira geral e, para isto, necessita da articulação e cooperação do psicólogo com outros profissionais.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

A violência sempre existiu?

Por mais que o discurso seja aparentemente bem pouca coisa, as interdições que o atingem revelam logo, rapidamente, sua ligação com o desejo e com o poder.

(A ordem do discurso, Michel Foucault).

A violência social tem sua origem, sem dúvidas, no seio familiar, em que a violência socialmente reprimida no meio público encontra seu respaldo como instrumento permitido e necessário de educação. É reconhecido que essa cultura secularmente arraigada de punir para educar, tem diminuído, mas ainda sobrevive em famílias onde há falta de informação, que pode ter relação direta com a situação socioeconômica.
A violência em suas diversas manifestações tem sido objeto de estudo bastante explorado no âmbito das ciências humanas. As teorias acerca da violência visam, de maneira geral, a compreensão dos sentidos da violência e do estabelecimento de sua legitimidade. Weber (2008 apud Angelim, 2009) aponta que o Estado tem como uma de suas funções o monopólio do uso legítimo da violência, não podendo nenhum grupo ou indivíduo, senão no exercício das funções do Estado, fazer uso da força física. Assim, o Estado se consolida como única fonte de ao exercício legítimo da violência e esta se apresenta como um fenômeno heterogêneo e que se apresenta como uso do poder que transgride determinadas normas sociais.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Filme: “Phoebe in Wonderland”





AUTORA DO TEXTO: Ana Carolina Lima da Silva.


Cópias apenas mediante autorização da autora. Plágio é crime!


O filme causa discussões relevantes como o diagnóstico e suas possíveis consequências, isto é, os efeitos que um diagnóstico pode causar no sujeito em questão, bem como em seu contexto social. Assim, por diversas vezes, os sintomas apresentados por Phoebe, causa-nos hipóteses de diversas doenças ou transtornos. De fato, o filme revela a grande sintomatologia de Phoebe: Síndrome Gilles de la Tourette, uma doença pouco comum no Brasil e que pode acarretar na falta de informações necessárias para um bom diagnóstico, principalmente porque esta doença assemelha-se a outras comumente estudadas e discutidas em diversos países. Desse modo, percebe-se a necessidade de um diagnóstico diferencial, no sentido de uma pesquisa aprofundada, baseada na construção de um vínculo terapêutico a fim de perceber as necessidades, angústias, medos etc, que o sujeito traz e que o causam sintomas e comportamentos muitas vezes incompreendidos pelo contexto familiar e/ou escolar em que está inserido.
Assim, é necessário discutir algumas relações retratadas no filme, como a dinâmica familiar. O casal, pais de Phoebe, apresenta uma relação instável, pois a mãe encontra-se encarregada de cuidar da casa, bem como de suas duas filhas, Phoebe e Olívia, o que a deixa frustrada; pois ela tem interesse em concluir seu livro sobre Alice no país das maravilhas; porém vê-se impossibilitada de fazê-lo. Enquanto isso, o pai dedica-se exclusivamente a conclusão e publicação de seu livro, apresentando-se apenas como provedor financeiro da casa e deixando sua responsabilidade de cuidador e sua participação efetiva nas tarefas escolares e no cotidiano das garotas, unicamente à mãe. Essa relação “distanciada” gerou dificuldades de relacionamento entre o casal e consequentes discussões desarmoniosas entre os mesmos.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Família e adolescentes em conflito com a Lei

“O fato sombrio é que somos a espécie mais cruel e implacável que jamais pisou sobre a Terra e que, embora possamos ficar horrorizados quando lemos,
no jornal ou nos livros, histórias sobre atrocidades cometidas pelo homem
contra o homem, sabemos, intimamente, que cada um de nós abriga dentro de
si os mesmos impulsos selvagens que levam ao assassínio, à tortura e à
guerra." (Anthony Storr)

   Penso, Ramos & Gusmão (2009) apontam que a adolescência é caracterizada por uma “revolução biopsicossocial” (p. 214), uma vez que apresenta mudanças significativas do ponto de vista biológico, bem como mudanças de comportamentos, expressividade e características psicológicas que dependem da cultura e sociedade em que estão inseridos e se desenvolvem.
Assim, podemos inferir que a adolescência é caracterizada por uma “crise de identidade” (p. 214), visto que cada idade tem suas próprias características, sua própria identidade. Entretanto, a crise acentuada ocorre na adolescência e é determinada de diversas maneiras por antecedentes e fatos ocorridos anteriormente e que também podem determinar o que ocorrerá adiante. Desse modo, diante da crise de identidade, o adolescente reagirá de acordo com a maneira que integrou os elementos da identidade durante sua infância.
As dificuldades vividas pelos sujeitos são influenciadas por suas relações, ou seja, a família do sujeito reflete a construção da sua identidade. Assim, devemos considerar a condição peculiar de desenvolvimento e a complexidade do lugar social do adolescente.