A minha iniciativa em
procurar o tema Gestalt-Terapia de Curta Duração partiu de um parágrafo que li
e que me levou a refletir acerca da prática do psicólogo: “as pessoas não sabem mais olhar para dentro de si mesmas e ver como
são: imensas, sagradas, plenas de potencialidades. É função da psicoterapia
colocar a pessoa, a todo instante, diante de si mesmas, olhando-se sem
prevenção, sem desprezo, sem culpa de querer ser feliz, mas com amor, orgulho
de si mesma, com fascínio e celebração da própria realidade.” (Ribeiro,
2009, p. 31)
Após a curiosidade,
descobri que a frase pertence ao livro do Jorge Ponciano Ribeiro (op. cit) e se
trata de um novo olhar e uma nova modalidade da Gestalt-terapia. Confesso que o
título “curta duração” causou impacto e ao mesmo tempo curiosidade em saber:
como é possível?
Logo, busquei aprofundamento na discussão e realizei um curso com o próprio autor do livro, e lá pude compreender essa nova modalidade de atendimento, entendendo suas particularidades. De acordo com Ponciano, o campo é um
todo, no qual as partes estão em relacionamento. Essa totalidade inclui pessoa
e meio, variáveis psicológicas e não psicológicas; e estes elementos se
influenciam e estão dinamicamente inter-relacionados.
Assim, a
Gestalt-Terapia se fundamenta em um conceito de mundo e pessoa que busca
compreender o ser humano enquanto imerso no imediato de sua experiência,
desvelando, aqui e agora, o vivido em sua plenitude, na sua relação com o outro
e com o mundo. Desse modo, podemos inferir que a Psicoterapia da Gestalt é a
maneira como a pessoa lida com o mundo, ressignificando-o a partir de suas
possibilidades.
O homem
constrói sua existência a partir das possibilidades que tem à sua frente. O
homem faz suas escolhas e constrói sua existência a partir dessa liberdade, mas
lembrando de suas responsabilidades. A dificuldade da decisão reside
não nas possibilidades da escolha, mas no próprio ato de escolher. Escolher uma
possibilidade significa negar todas as outras, daí a origem da angústia.
Escolher implica em tornar-se responsável pelo próprio destino. A existência
não consegue abarcar todas as possibilidades que se apresentam ao indivíduo.
A partir dessa
discussão, podemos inferir que o objetivo da psicoterapia é ampliar a visão
perceptiva do cliente para que ele possa ter uma concepção de mundo mais
abrangente e repleta de possibilidades. Para isso, a psicoterapia não pode mais
ser distante da realidade social ou tampouco virar-lhe as costas como se fosse
algo sem importância.
O
compromisso que temos é com as pessoas que nos procuram pedindo uma escuta
diferenciada de sua dor e, muitas vezes, buscando uma solução para os seus
“problemas”. Assim, nosso compromisso é prestar o melhor serviço possível a
quem nos procura e nos pede ajuda.
A Gestalt-Terapia está
centrada na experiência imediata da pessoa, fazendo uma hermenêutica
experiencial e existencial, fazendo um processo de saúde acontecer. O encontro
terapêutico ocorre no aqui e agora, isto é, no espaço e tempo da relação. Vale
ressaltar que o tempo não é matemático, mas configura-se como um tempo vivido,
com o interesse em ajudar o cliente a identificar e trabalhar suas ansiedades e
bloqueios atuais, ao invés de perguntar onde e quando seu desenvolvimento
poderia ter ocorrido na infância.
É a partir destes
pressupostos teóricos que a Gestalt-Terapia se fundamenta como prática de
atuação. São conceitos que consideram o ser humano como alguém capaz de mudar
seu caminho a partir de suas potencialidades, valorizando a si mesmo. Ao
buscarmos o equilíbrio, deparamo-nos com questionamentos sem respostas e sem
sentido, desvelando nossas máscaras e a incompletude de nosso ser. A função da
terapia é permitir que a pessoa se movimente, saia do lugar em que ficou
estagnada, buscando reaprender a ver e ler a si mesmo de um modo diferente a
cada momento vivido, redefinindo e abrindo-se para um novo horizonte. Não
devemos esquecer que a terapia não cura, mas proporciona recursos para que o
cliente perceba a si mesmo e busque o equilíbrio.
Depois da discussão
teórica acerca das vertentes que compõem a Gestalt-terapia, o livro discute o
plano de curta duração. Em suma, ele se apresenta possível em grupos e
individual, mas com manejos diferentes. O nome Gestalt-terapia de curta duração
engloba as chamadas psicoterapia breve, de confronto, de intervenção em crise e
de apoio. O professor justifica esta colocação afirmando que a ação do
terapeuta estará estreitamente vinculada à necessidade do cliente e à sua
experiência imediata vivida. Ou seja, o importante é a atenção que se dá às
demandas e necessidades daquele cliente naquele momento, pois a caracterização
do processo terapêutico depende muito mais de como o terapeuta configura a
demanda do cliente do que do nome que o terapeuta dará ao seu trabalho.
É o professor Jorge
Ponciano Ribeiro quem oferece uma primeira e sucinta definição sobre esta
modalidade individual em Gestalt-terapia, dizendo que se trata de um processo
no qual se envolvem terapeuta e cliente com a finalidade de encontrar soluções
imediatas de situações de qualquer ordem vivenciadas como problemáticas pelo
cliente. Nesse processo são utilizados todos os recursos possíveis, de tal modo
que no mais curto espaço de tempo, o cliente possa se sentir confortável para
conduzir sozinho sua própria vida.
Basicamente, o objetivo
da Gestalt-terapia de curta duração é o mesmo do trabalho realizado na
psicoterapia de longa duração, só que de maneira mais modesta. Isto é, se em um
trabalho longo, o propósito é acompanhar o cliente em mudanças em sua
personalidade, aqui o trabalho é acompanhar o cliente em algumas mudanças em
sua personalidade; se em um trabalho longo o objetivo é facilitar ao cliente a
ampliação de sua capacidade de discriminação, aqui o objetivo é facilitar a
ampliação de sua capacidade de discriminação no que diz respeito, ao menos a
princípio, a um determinado e limitado campo. Se em um trabalho de longa
duração, o propósito é curar o cliente, aqui o propósito é curar alguns
sintomas, é ajuda-lo a ampliar sua capacidade de autoaceitação no que se refere
a algum aspecto específico, bem como facilitar a lidar com determinadas
angústias. Enfim, em um trabalho de longa duração o objetivo é restaurar a
qualidade do contato da pessoa consigo mesma e com seu mundo, aqui o objetivo é
restaurar o contato da pessoa com alguns aspectos de si e de seu mundo.
Em suma, a diferença
entre Gestalt-terapia de curta duração e uma psicoterapia gestáltica sem a
preocupação com o tempo é, fundamentalmente, um estreitamento de limites. Esse
estreitamento de limites se aplica principalmente à duração e ao foco do
trabalho terapêutico, que causa consequências em vários aspectos do processo
psicoterapêutico, especialmente à relação terapêutica. Para tanto, é importante
que o diálogo se estabeleça nesta relação entre terapeuta e cliente e que a
partir de entrevistas iniciais e a aceitação do cliente para a realização de
uma terapia de curta duração, alguns aspectos das polaridades do cliente possam
ser percebidos e discutidos ao longo dos atendimentos, isto é, é definido a
figura e fundo da terapia, mantendo o foco.
RIBEIRO, J. P.
Gestalt-Terapia de Curta Duração. São
Paulo: Summus Editorial, 2009.
Nenhum comentário:
Postar um comentário