"Eu acredito em minhas possibilidades e potencialidades. Eu faço a minha existência aqui e agora." [Ana Carolina]

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Dica de livro: Gestalt-Terapia de Curta Duração

A minha iniciativa em procurar o tema Gestalt-Terapia de Curta Duração partiu de um parágrafo que li e que me levou a refletir acerca da prática do psicólogo: “as pessoas não sabem mais olhar para dentro de si mesmas e ver como são: imensas, sagradas, plenas de potencialidades. É função da psicoterapia colocar a pessoa, a todo instante, diante de si mesmas, olhando-se sem prevenção, sem desprezo, sem culpa de querer ser feliz, mas com amor, orgulho de si mesma, com fascínio e celebração da própria realidade.” (Ribeiro, 2009, p. 31)
Após a curiosidade, descobri que a frase pertence ao livro do Jorge Ponciano Ribeiro (op. cit) e se trata de um novo olhar e uma nova modalidade da Gestalt-terapia. Confesso que o título “curta duração” causou impacto e ao mesmo tempo curiosidade em saber: como é possível?
Logo, busquei aprofundamento na discussão e realizei um curso com o próprio autor do livro, e lá pude compreender essa nova modalidade de atendimento, entendendo suas particularidades. De acordo com Ponciano, o campo é um todo, no qual as partes estão em relacionamento. Essa totalidade inclui pessoa e meio, variáveis psicológicas e não psicológicas; e estes elementos se influenciam e estão dinamicamente inter-relacionados.
Assim, a Gestalt-Terapia se fundamenta em um conceito de mundo e pessoa que busca compreender o ser humano enquanto imerso no imediato de sua experiência, desvelando, aqui e agora, o vivido em sua plenitude, na sua relação com o outro e com o mundo. Desse modo, podemos inferir que a Psicoterapia da Gestalt é a maneira como a pessoa lida com o mundo, ressignificando-o a partir de suas possibilidades.
O homem constrói sua existência a partir das possibilidades que tem à sua frente. O homem faz suas escolhas e constrói sua existência a partir dessa liberdade, mas lembrando de suas responsabilidades. A dificuldade da decisão reside não nas possibilidades da escolha, mas no próprio ato de escolher. Escolher uma possibilidade significa negar todas as outras, daí a origem da angústia. Escolher implica em tornar-se responsável pelo próprio destino. A existência não consegue abarcar todas as possibilidades que se apresentam ao indivíduo.
A partir dessa discussão, podemos inferir que o objetivo da psicoterapia é ampliar a visão perceptiva do cliente para que ele possa ter uma concepção de mundo mais abrangente e repleta de possibilidades. Para isso, a psicoterapia não pode mais ser distante da realidade social ou tampouco virar-lhe as costas como se fosse algo sem importância.
O compromisso que temos é com as pessoas que nos procuram pedindo uma escuta diferenciada de sua dor e, muitas vezes, buscando uma solução para os seus “problemas”. Assim, nosso compromisso é prestar o melhor serviço possível a quem nos procura e nos pede ajuda.
A Gestalt-Terapia está centrada na experiência imediata da pessoa, fazendo uma hermenêutica experiencial e existencial, fazendo um processo de saúde acontecer. O encontro terapêutico ocorre no aqui e agora, isto é, no espaço e tempo da relação. Vale ressaltar que o tempo não é matemático, mas configura-se como um tempo vivido, com o interesse em ajudar o cliente a identificar e trabalhar suas ansiedades e bloqueios atuais, ao invés de perguntar onde e quando seu desenvolvimento poderia ter ocorrido na infância.
É a partir destes pressupostos teóricos que a Gestalt-Terapia se fundamenta como prática de atuação. São conceitos que consideram o ser humano como alguém capaz de mudar seu caminho a partir de suas potencialidades, valorizando a si mesmo. Ao buscarmos o equilíbrio, deparamo-nos com questionamentos sem respostas e sem sentido, desvelando nossas máscaras e a incompletude de nosso ser. A função da terapia é permitir que a pessoa se movimente, saia do lugar em que ficou estagnada, buscando reaprender a ver e ler a si mesmo de um modo diferente a cada momento vivido, redefinindo e abrindo-se para um novo horizonte. Não devemos esquecer que a terapia não cura, mas proporciona recursos para que o cliente perceba a si mesmo e busque o equilíbrio.
Depois da discussão teórica acerca das vertentes que compõem a Gestalt-terapia, o livro discute o plano de curta duração. Em suma, ele se apresenta possível em grupos e individual, mas com manejos diferentes. O nome Gestalt-terapia de curta duração engloba as chamadas psicoterapia breve, de confronto, de intervenção em crise e de apoio. O professor justifica esta colocação afirmando que a ação do terapeuta estará estreitamente vinculada à necessidade do cliente e à sua experiência imediata vivida. Ou seja, o importante é a atenção que se dá às demandas e necessidades daquele cliente naquele momento, pois a caracterização do processo terapêutico depende muito mais de como o terapeuta configura a demanda do cliente do que do nome que o terapeuta dará ao seu trabalho.
É o professor Jorge Ponciano Ribeiro quem oferece uma primeira e sucinta definição sobre esta modalidade individual em Gestalt-terapia, dizendo que se trata de um processo no qual se envolvem terapeuta e cliente com a finalidade de encontrar soluções imediatas de situações de qualquer ordem vivenciadas como problemáticas pelo cliente. Nesse processo são utilizados todos os recursos possíveis, de tal modo que no mais curto espaço de tempo, o cliente possa se sentir confortável para conduzir sozinho sua própria vida.
Basicamente, o objetivo da Gestalt-terapia de curta duração é o mesmo do trabalho realizado na psicoterapia de longa duração, só que de maneira mais modesta. Isto é, se em um trabalho longo, o propósito é acompanhar o cliente em mudanças em sua personalidade, aqui o trabalho é acompanhar o cliente em algumas mudanças em sua personalidade; se em um trabalho longo o objetivo é facilitar ao cliente a ampliação de sua capacidade de discriminação, aqui o objetivo é facilitar a ampliação de sua capacidade de discriminação no que diz respeito, ao menos a princípio, a um determinado e limitado campo. Se em um trabalho de longa duração, o propósito é curar o cliente, aqui o propósito é curar alguns sintomas, é ajuda-lo a ampliar sua capacidade de autoaceitação no que se refere a algum aspecto específico, bem como facilitar a lidar com determinadas angústias. Enfim, em um trabalho de longa duração o objetivo é restaurar a qualidade do contato da pessoa consigo mesma e com seu mundo, aqui o objetivo é restaurar o contato da pessoa com alguns aspectos de si e de seu mundo.
Em suma, a diferença entre Gestalt-terapia de curta duração e uma psicoterapia gestáltica sem a preocupação com o tempo é, fundamentalmente, um estreitamento de limites. Esse estreitamento de limites se aplica principalmente à duração e ao foco do trabalho terapêutico, que causa consequências em vários aspectos do processo psicoterapêutico, especialmente à relação terapêutica. Para tanto, é importante que o diálogo se estabeleça nesta relação entre terapeuta e cliente e que a partir de entrevistas iniciais e a aceitação do cliente para a realização de uma terapia de curta duração, alguns aspectos das polaridades do cliente possam ser percebidos e discutidos ao longo dos atendimentos, isto é, é definido a figura e fundo da terapia, mantendo o foco.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
RIBEIRO, J. P. Gestalt-Terapia de Curta Duração. São Paulo: Summus Editorial, 2009. 

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