O
filme retrata a história de Adam, um rapaz de 27 anos, simples, simpático, que
vive uma vida “certinha”: não fuma, não bebe, não usa drogas. Ele vive sozinho numa casa discreta e trabalha numa estação
de rádio junto ao seu amigo, Kyle.
A vida de Adam é subitamente abalada quando, em uma consulta de rotina,
no seguimento de uma aparentemente inofensiva dor de costas, um médico lhe
informa, sem rodeios, e sem que nada o previsse, que o jovem contraiu uma
espécie rara de cancro na medula espinal sob a forma de um tumor nas costas,
não tendo outra opção senão aguentar a quimioterapia e esperar pelo melhor,
pois a hipótese de sobrevivência é de 50%.
Inicialmente, pensando a partir desta cena sobre a relação médico e paciente, percebemos a vigência do modelo biomédico no processo saúde-doença, isto é, o médico adota uma postura de princípio da doença enquanto unicausal, mecanicista, biologizante e individual, ou seja, mantendo o foco na doença e não no sujeito adoecido, não considerando o contexto sócio-cultural em que o sujeito está inserido e teorizando que as doenças e suas curas sempre acontecem no nível biológico.
Entretanto, faz-se necessário este
estudar a doença sob o ponto de vista de um processo, em que o sujeito seja
percebido em seu nível biopsicossocial, pois a postura médica e de qualquer
outro profissional de saúde deve considerar os efeitos das mudanças sociais,
culturais, econômicas e políticas que enfrentamos; indicando então, a
ineficiência e insuficiência do modelo biomédico para as demandas de saúde,
visto que a sociedade tem se modificado diante da violência, globalização,
mudanças biológicas e culturais etc.
Em contrapartida, faz-se necessário um modelo que integre os sujeitos,
sob a perspectiva de seres indivisíveis daquilo que o constituem organicamente,
socialmente e psicologicamente. O modelo biopsicossocial parte deste olhar
integral sobre os sujeitos, compreendendo o processo saúde-doença como um
complexo intercâmbio de fatores biológicos, sociais e psicológicos; incluindo o
indivíduo e a influência que o mesmo tem sobre a sua própria vida, além de
outros fatores importantes que o constitui. Aqui, diferentemente do modelo
biomédico, em que a saúde é vista dentro dos parâmetros de normalidade, a
doença é uma experiência que pode ser positivada ou negativada, é uma
possibilidade de ser e existir, no sentido de um processo
intrínseco ao ser humano e não como um mal a ser extirpado.
Diante de um modelo de
integração do processo saúde-doença, busca-se a transformação social com o
empoderamento de Políticas Públicas e não a legitimização do sujeito enquanto
vulnerável e impossibilitado de busca por melhorias, isto é, instrumentalizando-o e possibilitando
que faça uso dos seus saberes sociais ao atuar no próprio processo saúde-
doença, humanizando os seres humanos.
Assim, podemos pensar
no modelo biopsicossocial como visão de uma Clínica Ampliada a partir dos
aspectos biopsicossociais, onde os sujeitos são atendidos em sua totalidade e
de maneira participativa, diferentemente da clínica retratada no filme.
Após receber de maneira
fria, a notícia sobre o câncer, Adam não consegue compreender o motivo de o
câncer ter desenvolvido nele, já que sempre se considerou um cara
“ecologicamente correto”; iniciando então, o que chamamos de Fase de negação, quando confrontado com
a notícia de que tem uma doença potencialmente mortal, ou seja, Adam e em
seguida, seus familiares e seu amigo, recusam-se a aceitar a
totalidade ou grande parte do que lhe é comunicado. É como se entrasse em um
estado de choque inicial e verbalizasse não acreditar no que lhe é informado.
Na maioria dos casos, esta é uma fase transitória que tem como função permitir
uma progressiva aceitação da realidade.
Em seguida,
acompanhamos a Fase de raiva de Adam,
em que o personagem começa a reconhecer a existência de uma doença grave e
mortal, mas não a aceita, reagindo de forma típica com raiva e exprimindo
revolta perante a sua má sorte. Esta fase é bastante difícil, tanto para a
família como para os profissionais de saúde, como por exemplo, quando Adam
reage agressivamente aos cuidados de sua mãe, bem como, às conversas com a
terapeuta Katherine. O exemplo de uma fala importante e que demonstra revolta
com sua atual situação é: “Tá vendo? Isso é besteira. Todo mundo fica me dizendo
desde o início: "você vai ficar bem" ou "tudo vai ficar
bem". Isso só piora tudo. Só piora que ninguém vire pra mim e diga:
"Sinto muito, mas você vai morrer".
Em
contrapartida, Adam sofre com os efeitos da quimioterapia e passa por todas as
fases psicológicas da doença, acompanhado inicialmente por seu amigo Kyle, na fase
psicológica que conhecemos como Fase de
barganha, isto é, o momento em que Adam é instigado por seu amigo a viver
plenamente sua vida, aproveitando o lado bom dos 50%. Então, os jovens saem
para curtirem baladas, conhecem novas garotas a fim de uma transa casual,
aproveitando louca e intensamente a vida. Adam também inicia o uso de maconha,
apontando que a erva tem uso medicinal.
Após
tentativas fracassadas de esquecer os “50% de chance de morte”, Adam inicia a Fase de depressão, acompanhado sempre
pela terapeuta Katherine, em que desabafa sobre o arrependimento de sua vida
pouco vivida, até o fato de não ter tirado carteira de habilitação devido ao
alto índice de acidentes. Além disso, a situação com sua ex-namorada acaba por
deixar Adam ainda pior, psíquica e sentimentalmente, a ponto de terminarem o
relacionamento, deixando-o mais abalado diante da situação. Adam
apresentou depressão devido aos sentimentos de impotência, muitas vezes
relacionados com seus problemas e necessidades, que precisavam ser equacionados
e resolvidos, visto que seu estado de saúde se deteriorava. Ele se preparava
para a morte e para a separação daqueles e daquilo a que está mais ligado na vida.
E, por
fim, identificamos que Adam encontrou a Fase
de aceitação, passando a compreender que a doença e
sua evolução são inevitáveis, e que apesar de manter-se fechado pra a vida,
também pode mudar sua postura diante do que está por vir, planejando viver
intensamente bem e corresponder as suas expectativas sobre o que é viver. O
nível de adaptação à doença no momento da morte é específico a cada um: alguns
continuam a negar a evidência, outros se afundam na depressão e só alguns
atingem a fase de aceitação. Estes últimos são considerados como os que podem
manter conversas profundas, que conseguem aceitar os aspectos positivos e
negativos da vida, demonstrando maior maturidade e uma vida interior e
interpessoal mais fecunda.
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