“Então acho que somos quem somos por várias razões. E talvez nunca conheçamos a maior parte delas. Mas mesmo que não tenhamos o poder de escolher quem vamos ser, ainda podemos escolher aonde iremos a partir daqui. Ainda podemos fazer coisas. E podemos tentar ficar bem com elas” (Chbosky, 2012).
A fenomenologia, como filosofia, estuda o fenômeno em si, a
essência de nossas percepções e do desvendamento do
nosso objeto de procura e conhecimento. É um conhecimento a priori, uma ontologia que estuda o ser, universal ou individual,
como um dado para nossa consciência (Romero, 2010).
O existencialismo é uma corrente mais ampla que a
fenomenologia, mas ambas se complementam. Introduzido por Husserl, mas nascido
oficialmente em 1927, com a publicação de Ser
e Tempo de Martin Heidegger, o existencialismo suscita reflexões acerca do
ser. Questionar e refletir acerca do que somos e como existimos, traz à tona
sentimentos de angústia e incompletude do ser (Romero, 2010).
Desse modo, o homem
codivide com outros seres as propriedades que decorrem de sua essência e que se
operam em sua existência. Ou seja, na vida cotidiana, temos uma
atitude natural diante de tudo o que nos rodeia como se o mundo existisse por
si mesmo, independentemente da nossa presença. Assim, a atitude natural ignora
a existência da consciência como a produtora de sentido de tudo o que a nós se
apresenta no mundo. Por isso, é importante que haja reflexão sobre nossa vida
cotidiana para que se revele a existência de nossa consciência. O ser é ser de
relações com o mundo, onde todas essas relações devem ser consideradas para, a
partir delas, se chegar à compreensão do ser e compreensão da vida. Nossa
relação primeira com o mundo não se dá por nenhuma forma de conhecimento, mas
através do uso e do contato com o mundo, com os seres, com as coisas.
Romero (2010) aponta que para a construção da realidade, é
necessário discutirmos acerca de três critérios, os quais sugerem ser
importante para entendermos o que é real. O primeiro é o critério de concretude em que o real é tudo o que
pode ser percebido em sua determinação. Aquilo que não é possível determinar ou
que de certa forma não se delimita nem os seus efeitos, não é real. Porém,
estas determinações não podem ser apenas individuais, pois devem ser
experiências compartilhadas. Assim, sob o olhar científico, não é suficiente
apenas a constatação do fenômeno, pois é necessário o estabelecimento das
condições de sua ocorrência, bem como suas ligações na manutenção de outros
fenômenos.
O segundo é o critério de verossimilitude
em que estabelece conexão com os atributos do juízo de verdade. Ou seja,
tendemos a perceber aquilo que se apresenta verdadeira como sendo real, embora
o juízo não esteja diretamente relacionado com a ocorrência dos fenômenos em
que se coloca a questão da realidade (Romero, 2010).
O terceiro é o critério de incumbência em que o real é tudo aquilo que inevitavelmente nos
afeta, tornando-se, portanto, algo de nossa incumbência. O autor aponta que é
comum contrapor imaginação e realidade, sugerindo que a contraposição é entre o
fictício e o factício. A diferença entre ambos está na condição de que factício
está relacionado aos fatos e à ocorrência de eventos determináveis; enquanto o
fictício está relacionado à ficção, àquilo que tem possibilidade de ocorrência
pelo menos no campo mental, não se tornando um evento determinável (Romero,
2010).
Desse modo, realidade é um conceito complexo e subjetivo que
se refere a tudo aquilo que se manifesta de alguma maneira; relacionando-se às
condições de produção dos fenômenos.
A realidade se apresenta como a interação entre diversas
coisas, lugares, objetos, fenômenos e entes naturais. Esses diferentes modos de
apreensão da realidade refletem no comportamento terapêutico como
possibilidades de aproximação da realidade observada. Quando um objeto é
apreendido pela consciência, passa a ser intencionado. A consciência dá
significado às coisas e estas passam a ser um objeto para a consciência. A
significação é a realidade do objeto na relação com o mundo, ou seja, é
intencionalizada pelo sujeito.
A reflexão fenomenológica é um modo de consciência necessário
para lidar com a objetividade, independentemente do sujeito real do qual esses
modos dependem. Ela lida com articulações existentes no sujeito, as quais são
partes objetivas da realidade independente do sujeito, que passa a dar
significado a partir de seu mundo interior. O processo intencional não separa
sujeito pensante de objeto pensado (Romero, 2010).
Todo fenômeno, portanto, para ser compreendido deverá ser
descrito para que se possa chegar à essência do objeto procurado. A realidade,
real ou irreal, deverá ser descrita a fim de ser compreendida. Compreender
significa apreender a essência do objeto em si mesmo, descobrindo suas
articulações e as percebendo como uma unidade. Após a autocompreensão, a
intencionalidade ocorre, porque compreender é encontrar para si mesmo o sentido
das coisas (Romero, 2010).
Assim, a fenomenologia é o método apropriado para analisar e
caracterizar a existência humana, pois descreve aquilo que nos afeta, nos
incumbe e nos compromete. A fenomenologia tem grande importância para a
Psicologia, pois como um método, ela nos propicia a prática e a filosofia. Este
método nos proporciona o modo de compreensão e apreensão dos sujeitos
relacionais e para isso, a partir da epoché,
devemos ver e observar o fenômeno tal como ele se mostra, sem apriores ou
interferências, a fim de manter a fidelidade e a pureza do fenômeno. Em
seguida, buscamos descrevê-lo rigorosamente considerando suas variações;
compreendê-lo em sua gênese vivencial, considerando que a essência do ser está
articulada à existência do mesmo e suas relações com o mundo. A descrição
fenomenológica deve priorizar a experiência vivida pelo sujeito, captando as
experiências manifestadas por ele no tempo vivido (Romero, 2010).
Referências Bibliográficas:
CHBOSKY, S. As vantagens de ser invisível. Rio de Janeiro: Rocco, 2012.
ROMERO, E. O enfoque fenomenológico existencial e compreensivo em Psicopatologia. In.: O inquilino do imaginário: Formas Malogradas de Existência. São Paulo: Della Bídia Editora, 2010, Cap. 2, pp. 45-64.
Imagem retirada do site: http://psiquenoite.blogspot.com.br/2011/04/psicoterapia-fenomenologica-existencial.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário