"Eu acredito em minhas possibilidades e potencialidades. Eu faço a minha existência aqui e agora." [Ana Carolina]

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

"Por que não a Fenomenologia?"

      Atualmente, tem sido discutida a qualidade do ensino na graduação em Psicologia. A crítica gira em torno da falha no ensino que tem sido repassado tradicionalmente aos universitários e que legitima a escolha de atuação dos mesmos.
Inicialmente, o ensino da Psicologia era restrito a atuação clínica, isto é, a inserção de psicólogos em diferentes contextos de atuação foi acontecendo aos poucos e recentemente, rompendo paradigmas e lançando uma práxis que desmonopoliza a tradicional Psicologia clínica. A partir deste histórico, as disciplinas ministradas nas universidades têm sido reelaboradas e reestruturadas, inserindo novas possibilidades, novos conceitos, desafios e caminhos.


      Augras (2012) aponta que a palavra “clínica” tem origem grega e significa cama. Assim, os médicos visitavam os doentes acamados e, com isso, podemos inferir que a clínica em Psicologia, assim como na Medicina, implica em “cura de doença”, ou seja, a busca pelo profissional e a atuação do psicólogo indiretamente estabelecem uma relação de foco no sintoma e não na saúde. Trata-se de uma constante prática ambígua baseada na psicopatologia.
      A partir das questões levantadas, me pergunto sobre o viés psicanalítico adotado nas universidades. De modo geral, sentimo-nos direcionados ao “psicanalismo”, não percebendo o arsenal de possibilidades existentes de uma prática mais humana e totalizadora. De fato, a psicanálise realizou grandes contribuições para a Psicologia, porém, não podemos desconsiderar as mudanças cotidianas e, principalmente, a necessidade de acolher e construir junto às pessoas, novas possibilidades e potencialidades na existência humana. Esta prática retira o foco de análise do sintoma e passado, possibilitando uma psicoterapia direcionada ao processo saúde e doença, enfocando o presente “aqui e agora”.
      Não é papel do psicólogo a promessa ou busca pela cura de uma pessoa, mas este profissional deve saber que algumas mudanças na vida das pessoas implicam em uma possível cura. Desse modo, devemos retirar o foco do passado, pois não temos o poder de muda-lo, apenas de ressignifica-lo a partir da compreensão de como a existência humana tem se constituído e provocado dificuldades atuais. Às vezes, o presente nos parece frágil e por isso temos a tendência de pensar no passado ou futuro, esquecendo-se do aqui e agora; entretanto, a única certeza que temos é o próprio presente, pois o passado já aconteceu e o futuro não podemos prever. A existência está no aqui e agora.
      Assim, seguindo a tendência tradicional em lidar com “doença”, o conceito de normal tem diferentes significados. Podemos definir sob uma perspectiva senso comum que normal é uma pessoa padronizada e/ou adequada à norma; normas que o outro impõe ou ainda, ser/estar saudável. Entretanto, a partir de uma abordagem fenomenológica, o conceito de normal é a capacidade adaptativa do indivíduo frente às situações, o que implica na compreensão de saúde e doença como um processo e não como situações opostas.
      A relação entre psicoterapeuta e cliente é estabelecida e mantida por um processo de fala e escuta, e estes meios resgatam o humano, a fluidez da pessoa. Assim, não podemos nos apegar em testes e diagnósticos inadequados, isto é, o processo de psicodiagnóstico deve conter o diálogo e não apenas testes psicológicos como verdade absoluta, pois o teste não pode nos oferecer todas as respostas. A crítica não está no fato do uso de testes, mas na falta de complementos essenciais para a condução de uma boa intervenção psicoterapêutica.
      Diante da discussão, não posso deixar de complementar com um discurso de Jorge Ponciano Ribeiro (2009)  em que ele nos relembra que “as pessoas não sabem mais olhar para dentro de si mesmas e ver como são: imensas, sagradas, plenas de potencialidades. É função da psicoterapia colocar a pessoa, a todo instante, diante de si mesmas, olhando-se sem prevenção, sem desprezo, sem culpa de querer ser feliz, mas com amor, orgulho de si mesma, com fascínio e celebração da própria realidade.” (p. 31)
      Desse modo, o questionamento da autora em “Por que não a fenomenologia?” nos remete a dúvida em por que não acreditar em uma nova possibilidade e conhece-la? Respeito à complexidade e buscar encontrar o sentido dentro do próprio fenômeno. Eis a fenomenologia.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

AUGRAS, M. Por que não a Fenomenologia? In.: O Ser da Compreensão: Fenomenologia da situação de psicodiagnóstico. Petrópolis: Ed. Vozes, 2012. Cap. 1, pp. 7-20.


RIBEIRO, J. P. Humanismo Existencialista. In.: Gestalt-Terapia de Curta Duração. São paulo: Summus, 2009. Cap. 2, p. 31.

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